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quinta-feira, abril 25, 2024

A magia da padaria que é ponto de encontro da política estadual

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Junte as histórias do emblemático bar Luchezzi, nas quatro décadas que antecederam à virada do milênio, onde políticos-boiadeiros como o então prefeito e deputado Antônio Moraes dos Santos vendiam seus bois e cabalavam votos, no ponto conhecido como “Pedra” e – a poucos metros dali, no mesmo quarteirão, mas já no novo milênio – as da não menos emblemático “CB” (central de boatos) do Takeo, onde jornalistas faziam suas pautas e os políticos apareciam para pagar uma saideira na esperança de uma citação que fosse em colunas como as de Vander Verão ou de Cícero Faria, no jornal do seu Amaral. Não chega perto da muvuca diária, hoje, da padaria “Pão Dourado”. Os fregueses protagonistas são os mesmos, políticos e seus asseclas, jornalistas, empresários e lideranças comunitárias.

Com uma localização privilegiada, numa esquina da rua Cuiabá, onde funcionava a Feira Livre, protegida por uma Igreja Pentecostal e por uma delegacia de polícia, a padaria se transformou num ponto estratégico, principalmente para políticos ansiosos por auscultar a pulsação do eleitorado. Assim como o pão quentinho mais famoso da cidade, o fuxico político também é quente, sempre em primeira mão. A explicação, segundo Everaldo Leite, de uma tradicional família de padeiros e proprietário do ponto desde 1983, é a necessidade da interação pessoal. “As pessoas vêm aqui conferir o que amanhece compartilhado nas redes sociais, principalmente nos grupos de WatssApp”, diz.

A magia da padaria que é ponto de encontro da política estadual
Pré-candidato a governador Marquinhos Trad e seu candidato a senador, ex-juiz federal Odilon de Oliveira, recepcionados por Everaldo Leite, na padaria Pão Dourado

Caixa de ressonância, um termômetro político, assim é conhecida “a padaria da rua Cuiabá!”. O espaço, embora já tenha se tornado pequeno, é democrático. Quando um político ou um empresário chega e vai direto para uma das mesas do fundo, é porque a conversa é reservada, o conhecido conchavo. Everaldo Leite lembra de dois “negócios” ali fechados nessas circunstâncias – a candidatura do hoje famoso influencer Juliano Ferro à prefeitura de Ivinhema e a do vereador Laudir Munaretto à presidência da Câmara Municipal de Dourados.

Contudo, disputadas mesmo, são as duas mesas de quatro lugares do lado de fora da padaria. “Mesmo desconfortáveis, são disputadas à tapa”, brinca Everaldo, realçando a condição de vitrine do local. Nelas se sentam, diariamente, lideranças de bairros, vereadores, prefeitos deputados, senadores, governador e até ministros, como aconteceu com a poderosa Tereza Cristina, que ali esteve no início deste ano. “A ministra chegou apenas como o motorista, sem batedores, sem aparato”, fez questão de lembrar Everaldo. Depois de mais de meia hora de prosa com garçons e frequentadores é que chegou para lhe fazer companhia o deputado Zé Teixeira e a suplente de vereadora Karla Gomes.

Nesse período da pré-campanha, além de Tereza Cristina, já bateram ponto ali quase todos os candidatos majoritários. “Proporcionais não dá nem pra contar”, justifica o orgulhoso padeiro. Entre os candidatos ao governo, até o fechamento deste texto, só faltavam Rose Modesto e André Puccinelli, cujas visitas eram aguardadas para a manhã desta quarta-feira, André, inclusive, já estivera lá quando governador do estado.

Entre os habitués, o vice-governador Murilo Zauith, o ex-deputado Roberto Razuk, sempre acompanhado do ex-vereador Archimedes Ferrinho Lemes Soares, que “abre”, praticamente, a padaria todos os dias; os também ex-vereadores Albino Mendes, Júnior Teixeira e Sidlei Alves. Quando prefeito, Murilo Zauith costumava “despachar” na padaria. Também sua sucessora, Délia Razuk, aparecia sempre nas primeiras horas da manhã, e mesmo nos tempos mais difíceis, era sempre solicitada para selfies e até para autógrafos pelos clientes. O prefeito Alan Guedes costuma aparecer sempre à tarde, depois do expediente na prefeitura.  

Entreveros de adversários políticos entre mesas? Não que Everaldo se lembre! Pelo contrário. Ele conta que eles costumam tomar café juntos, mesmo em períodos eleitorais, dali partindo para o corpo a corpo com o eleitorado. Até porque, segundo Everaldo, outros dois frequentadores assíduos são os badalados repórteres policiais Oswaldinho Duarte e Sidney Bronca. “Pensa arrumar uma confusão na frente desses dois”, brinca. Quanto aos adversários mais ferrenhos, dificilmente se cruzam “Parece até que para evitar constrangimentos, já sabendo os horários uns dos outros”, acrescenta.

Nesse entra e sai de famosos e poderosos – até o refinado Delcídio do Amaral apareceu quando senador –, outros nem tanto, um dia Everaldo percebeu três fregueses distintos, todos de terno, num horário de movimento mais tranquilo. Não, não era gente do Judiciário ou policiais em busca de políticos suspeitos. Eram três pastores visitantes da vizinha igreja do pastor Jeová, num lanchinho básico. Detalhe, ficou-se sabendo depois, os três eram deputados federais de outros estados. Ressabiado, Everaldo não duvida que, ainda nesta eleição, apareça por lá o presidente Jair Bolsonaro.

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