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quinta-feira, maio 2, 2024

Coerência histórica dos eleitores de Dourados reforça a convicção de Alan Guedes na reeleição

Prefeito de Dourados diz não temer a campanha de reeleição porque os eleitores são sabidos demais

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“Ninguém compra o douradense por bobo, ninguém vota em A sabendo que vai eleger B, o douradense é sabiiiiido que só ele”. Assim mesmo, com um sabido bem esticado, com aquela sua já conhecida e até incomodativa tranquilidade oceânica, para enfatizar a sabedoria dos eleitores da cidade por ele administrada, o prefeito Alan Guedes manifestou a convicção em seu projeto de reeleição. Isto, na quarta-feira da semana passada, dia em que ao lado da senadora bolsonarista Tereza Cristina lançou obras e serviços do tão decantado Fonplata, o banco da Bacia do Prata que só vai investir cerca de 40 milhões de dólares em Dourados porque ele conseguiu sanear as contas do município. No mesmo dia e na mesma cerimônia em que, à tarde, garantiu que só iria falar de política em agosto, depois das convenções partidárias. Mesmo dia em que, à noite, deu uma grande demonstração de força política ao receber os novos filiados ao seu partido, o PP, também de Tereza Cristina, aliada de primeira hora do PL do ex-presidente Bolsonaro.

Uma semana depois, analistas e, principalmente, adversários políticos continuam encafifados com a fala do prefeito. Que não se compra douradense por bobo, nenhuma dúvida, mas, que história é essa de que ninguém vota em A sabendo que vai eleger B? A menos que Alan Guedes tenha se perdido no improviso ou, para não antecipar o confronto eleitoral chamando a dar explicações um de seus prováveis adversários, cuja condição colocada para entrar na disputa é que uma vez eleito o establishment se encarregue de tocar a prefeitura, dada a ausência de quadros em seu entorno e, também, por conta de atividade profissional que é sua razão de viver.   

Coerência histórica dos eleitores de Dourados reforça a convicção de Alan Guedes na reeleição
José Elias Moreira e seu vice-José Cerveira (com lenço na boca), empossando o sucessor Luiz Antônio Gonçalves (foto: arquivo/PMD)

Sejam lá quais forem os motivos que levaram o prefeito a misturar o óbvio com o ambíguo, uma coisa parece certa. Antes de preparar o roteiro de sua fala ele deve ter revisitado a história das eleições Dourados, mais especificamente a que começa em 1982, quando o “azarão” professor Luiz Antônio Álvares Gonçalves se elegeu prefeito derrotando, entre outros, o grande líder político João Totó Câmara, candidato apoiado, na mesma eleição, pelo primeiro governador eleito do novo estado, o emedebista Wilson Barbosa Martins. Como a história não pode ser mascarada, lembrando que Luiz Antônio foi eleito (para um mandato de seis anos) na garupa do candidato derrotado ao governo, José Elias Moreira (eleito prefeito em 1976 e com mandato prorrogado por dois), que renunciara à prefeitura por ser o único arenista capaz de impedir uma vitória emedebista no estado. Aí começando a fazer sentido o raciocínio de Alan Guedes, de que “o eleitorado de Dourados é sabido que só ele”. Isto, porque num tempo em que a informação era um produto escasso, no dia das eleições Zé Elias era tido como governador eleito, tanto que derrotou Wilson Martins em todo o interior, só perdendo em Campo Grande, onde os resultados foram conhecidos mais de uma semana depois do pleito. Ou seja, Zé Elias com fama de melhor prefeito da história, faria mais ainda por Dourados com um prefeito aliado. Tal qual Eduardo Riedel faz com o próprio Alan Guedes, com parcerias exitosas, embora de partidos diferentes.

1988. Braz Melo, candidato do governador Marcelo Miranda, derrota o “pedrista” empedernido, o mesmo Zé Elias, aí já deputado federal Constituinte, por 41 votos. Detalhe, Zé Elias largou com uma vantagem de 65% nas pesquisas, contra 6% de Braz Melo. Este exemplo da eleição que marcou a história vale para os que colocam as sempre tão questionáveis pesquisas como condição para a escolha de um candidato, como se elas não representassem apenas um momento. Mais um ponto para Alan Guedes, já que um eleitor sabido não se amedronta com pesquisas.

1992. Com sua primeira administração também muito época, Braz Melo tenta mostrar força com Antônio Nogueira, seu secretário de Obras, amigo do peito, seu homem de confiança, mas um outsider na política, preterindo o deputado Valdenir Machado, que seria o candidato natural. Valdenir chutou o balde e elegeu o colega deputado Humberto Teixeira prefeito. Este equívoco histórico custou a Braz Melo o governo do estado, já que à época não havia no estado um político mais popular que ele. Uma rebordosa como a vivida hoje pelo PSDB, com os caciques da capital insistindo enfiar o nome do radialista Marçal Filho goela abaixo das lideranças locais. Três a zero, já,  para Alan Guedes.

1996. Como vice-governador de Wilson Barbosa Martins, de retorno ao governo depois de sua passagem pelo Senado, não tinha pra ninguém. Até porque “dr. Wilson” não via a hora de se livrar do vice, numa eleição em que pesou também o recall da primeira administração de Antônio Braz Genelhu Melo. E, aqui, talvez, o maior exemplo de que o prefeito sabia o que estava falando quanto ao discernimento do eleitor douradense, já que o candidato derrotado por Braz Melo nessas duas eleições foi o mesmo Zé Elias, até aqui, mesmo com muita gente torcendo o nariz, o maior prefeito da história da terra de seu Marcelino. Quer dizer, o eleitor sabido não olha pelo retrovisor.

Coerência histórica dos eleitores de Dourados reforça a convicção de Alan Guedes na reeleição
Braz Melo empossa o sucessor, Laerte Tetila, em janeiro de 2001 (foto: arquivo PMD)

2000/2004. Na primeira eleição na esteira do sucesso do governo Zeca do PT, na segunda com o companheiro Lula já tendo subido a rampa do Planalto (no ano anterior), outro professor, José Laerte Cecílio Tetila entrou para a história como o primeiro prefeito reeleito em mandato consecutivo. Aqui, adaptando ao discurso de Alan a máxima de que em time que está ganhando não se mexe, em que pese muitas controvérsias nessa pré-campanha eleitoral.

2008. O ano em que os eleitores douradenses fizeram seu ponto de inflexão. Cansados do blablablá de sempre, trocaram o todo-poderoso Murilo Zauith, ex-deputado estadual e federal, vice-governador de André Puccinelli, por Ari Valdecir Artuzi, como Lula um semianalfabeto que virou fenômeno eleitoral, só que começando de baixo, como vereador, daí a deputado, já fenômeno eleitoral na segunda eleição, para dois anos depois se eleger prefeito. Neste caso a frase de Alan Guedes se mantém graças a uma incógnita, já que as tais “forças estranhas” não deixaram o mais popular prefeito da história concluir seu mandato. Será por que ele poderia ser um bom prefeito, quem sabe até ameaçar a posição daqueles que, como o governador de plantão, André Puccinelli, só se referiam a ele como “animal de pelo curto?”.  

2012. A prisão do prefeito Ari Artuzi em 2010, por conta das denúncias de corrupção da Operação Uragano, fez ascender prefeita a então presidente da Câmara, Délia Razuk, a única vereadora que escapou da degola uragânica, por isso compungida a segurar a peteca por alguns meses até a convocação de eleições extraordinárias, para, enfim, Murilo Zauith se tornar plenipotenciário também na prefeitura, para um mandato tampão, a partir de fevereiro de 2011. Daí para a reeleição, em 2012, foi como tomar doce de criança, com direito a escolher com quem disputar, apesar do fator Keliana Fernandes. Sempre ela, a radialista que gosta deixar candidatos à prefeitura de Dourados com a pulga atrás da orelha. Eleitor sabido, que só ele, porque Murilo era tido como a grande esperança dos douradenses, o empresário bem sucedido que quebraria paradigmas como prefeito, coisa que só a história dirá, quem sabe o dia em que Dourados ultrapassar Campo Grande como metrópole, com seu fiel escudeiro Creusimar Barbosa podendo estufar o peito para dizer que o chefe não só é o único político que ele conhece que não é corrupto como também o que anteviu o estrondoso crescimento da cidade, esticando o perímetro urbano para que este grande feito fosse possível.

Coerência histórica dos eleitores de Dourados reforça a convicção de Alan Guedes na reeleição
Mesmo com um bom mote de campanha, Murilo Zauith não conseguiu derrotar o petista Tetila, em 2000, mas foi eleito e reeleito prefeito no pós-Uragano (foto: Silva Melo Comunicação)

2016/2020. Arrematando a assertiva do discurso de Alan Guedes – também um contraponto ao futuro provável aliado, deputado Geraldo Resende, para quem o uma parcela do eleitorado douradense “parece ter o dedo podre na hora de votar” – a eleição de Délia Razuk foi, nada mais, nada menos, que uma tentativa de desagravo ao marido, o ex-deputado Roberto Razuk (preso pela Polícia Federal acusado de dar um golpe no Banco do Brasil), quando já tinha até um plano de governo pronto, tanta a certeza de que seria prefeito. Foi a primeira derrota do governador Reinaldo Azambuja com um candidato a prefeito, apoiando o deputado Geraldo Resende. Pelo que aconteceria consigo mesmo quatro anos depois, derrotando o então deputado Barbosinha, também apoiado pelo ainda governador Azambuja, talvez a convicção de Alan Guedes em seu projeto de reeleição seja pela máxima cristã “diga-me com quem andas que dir-te-ei quem és”. Afinal, o povo, tão sábio, como lembra Alan Guedes, não quis eleger prefeitos Geraldo Resende e Barbosinha, dois dos melhores quadros da política local ou a rejeição foi a quem estava no palanque deles? Os próximos palanques vão dizer se Alan Guedes está ou não com a razão.

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