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sábado, outubro 5, 2024

Reflexo da selvageria: ataques fazem patamar de rejeição superar outras capitais e disputas recentes em São Paulo

Segundo a pesquisa Quaest divulgada nesta quarta-feira, três candidatos aparecem acima dos 40% no índice negativo; Datena é líder no quesito

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Com retóricas inflamadas, acusações nem sempre respaldadas na realidade e até cadeirada em debate, a eleição de São Paulo registra patamares de rejeição aos candidatos bem superiores aos de outras capitais — e acima do que a própria cidade teve no passado recente. Segundo a pesquisa Quaest divulgada ontem, três postulantes aparecem acima dos 40% no índice negativo, sendo que José Luiz Datena (PSDB), o líder no quesito desde o início da corrida, é repelido por 62%.

Antes mesmo de o apresentador de TV atingir o paroxismo do acirramento eleitoral com a cadeirada em Pablo Marçal (PRTB), no domingo passado, a campanha paulistana parecia fadada a um episódio como esse. O próprio Datena já havia se dirigido ao púlpito do ex-coach no meio de outro debate e o ameaçado de agressão, também na esteira de provocações de Marçal — que, longe de se limitar ao tucano, vem atacando outros candidatos desde o início da campanha.

O ex-coach é rejeitado por 45%, em empate técnico com os 46% de Guilherme Boulos (PSOL). O psolista é um dos alvos de ataques do candidato do PRTB, que desde o primeiro debate o acusa de ser usuário de cocaína, sem apresentar provas. O prefeito Ricardo Nunes (MDB), rejeitado por 37% — mesmo percentual de Tabata Amaral (PSB) — embarcou na estratégia do adversário e, no último debate, perguntou se Boulos “cheirou”. O representante do PSOL, por sua vez, havia acusado o emedebista de ser “ladrãozinho de creche”, em referência à investigação da Polícia Federal sobre corrupção em creches.

Nas intenções de voto, a pesquisa de ontem mostra de novo um empate técnico entre Nunes (24%), Boulos (23%) e Marçal (20%). Em relação à semana passada, o prefeito permaneceu igual, o psolista oscilou três pontos para cima e o ex-coach, três para baixo. No segundo pelotão, Datena tem 10%, e Tabata, 7%. Trata-se do primeiro levantamento do instituto desde a cadeirada levada por Marçal, e o resultado não foi positivo para o influenciador.

A Quaest não realizava pesquisas em 2020, mas o Datafolha feito em período equivalente naquela eleição, a três semanas do pleito, mostrava um cenário bem diferente de rejeições. O próprio Boulos tinha quase metade do percentual de agora, 24%, e o mais rejeitado da ocasião, Celso Russomanno, registrava 38% — percentual análogo ao de Nunes e Tabata, empatados em quarto no ranking deste ano. Acima dos 30%, além de Russomano, só aparecia Joice Hasselmann.

Fora da curva

A comparação com outras cidades na disputa deste ano também escancara como São Paulo está fora da curva. No Rio, o mais rejeitado é um candidato nanico e de extrema esquerda, Cyro Garcia (PSTU), que sempre participa das eleições locais e não está no centro das grandes discussões da campanha. Com exceção dele, Tarcísio Motta (PSOL), com 43%, é o único acima dos 40%.

Ao contrário da capital paulista, portanto, os líderes em intenções de voto não aparecem com rejeição tão alta: 28% não votariam de jeito nenhum em Eduardo Paes (PSD), e 36% em Alexandre Ramagem (PL).

Em Belo Horizonte, os campeões em rejeição também não são os favoritos para chegar ao segundo turno. À frente nas intenções de voto, Mauro Tramonte (Republicanos) e Fuad Noman (PSD) são repelidos por 36% e 28%, respectivamente.

Alguns segmentos mais alinhados a cada campo político ajudam a entender as rejeições. Boulos, por exemplo, é muito desprezado pelos evangélicos (53%), embora tenha diminuído o percentual em cinco pontos na última semana. Já Marçal, apesar de ter entre os fiéis um percentual de rejeição inferior à média geral, 34%, viu o índice subir cinco pontos nos últimos dias.

O baixo nível dos debates em São Paulo não se limita a ataques físicos ou acusações pesadas. Marçal, sempre afeito a tumultuar, criou apelidos como “bananinha” para Nunes, “Boules” para Boulos, “Dapena” para Datena e “Chatábata” para Tabata Amaral.

Depois de provocar o candidato do PSOL com uma carteira de trabalho em mãos durante um debate do jornal “O Estado de S. Paulo” — o que motivou um tapa de Boulos para tentar derrubá-la —, Nunes, Datena e o psolista chegaram a se ausentar do encontro seguinte, promovido pela revista “Veja”, a fim de não dar mais palco para o adversário.

Outro fator que incentiva as rejeições altas é a estratégia de levar as críticas ao horário eleitoral na TV e no rádio. Marçal, por exemplo, foi alvo de peças que o associavam ao Primeiro Comando da Capital (PCC).

— As rejeições também vão se movimentando, não só as preferências — avalia o cientista político João Feres, professor do Iesp-Uerj.

Coordenador do Laboratório de Estudos da Mídia e Esfera Pública (Lemep), que conduz pesquisas qualitativas sobre Marçal junto com o Instituto da Democracia (INCT), Feres vê diferentes motivos para as rejeições altas na cidade.

— O Boulos, muito por razões de antipetismo, antiesquerdismo da parte conservadora da população, ficou muito marcado pelo movimento dos sem-teto. Marçal, claro, pelo comportamento super polarizador: ele está lá para criar afeições e rejeições. Já o Nunes, por causa da gestão dele mesmo, apesar de não ter um índice tão alto quanto os outros — aponta.

Evolução

Marçal e Datena foram os candidatos que apresentaram o maior crescimento na rejeição nos últimos meses. Em comparação com a Quaest da última semana de julho, os dois subiram 16 pontos cada no índice que ninguém quer ver subir. Tabata Amaral acrescentou dez pontos no percentual, e Boulos, sete.

Já Nunes conseguiu manter a rejeição em patamar estável — era de 34% na semana final de julho, apenas três pontos a menos que agora.

A pesquisa Quaest entrevistou presencialmente 1.200 eleitores de 16 anos ou mais entre 15 e 17 de setembro. A pesquisa foi contratada pela TV Globo e está registrada na Justiça Eleitoral sob o número SP-00281/2024.

A margem de erro é de três pontos para mais ou para menos, e o grau de confiança é de 95%.

 Caio Satori/O Globo — Rio de Janeiro

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