Relutei em abordar este episódio – ocorrido no calor das eleições municipais do ano passado –, mas os últimos acontecimentos me convenceram a revisitar o tema. Afinal, como se não bastasse o deputado Rodolfo Nogueira, o caricato “Gordinho do Bolsonaro”, já estar contaminado pelo vírus do bolsonarismo, agora ele exibe sintomas ainda mais graves, resultado de uma carga viral talvez mais letal: o trumpismo. Essa combinação parece ter devastado de vez o que restava dos seus neurônios. E, considerando seu histórico, é inevitável diagnosticar a surra que ele levou do genro do deputado Zé Teixeira como um marco simbólico na deterioração dessa trajetória, que já vinha em queda desde que Bolsonaro deixou o poder.
Sim, o deputado federal Rodolfo Nogueira, lídimo e orgulhoso representante da “direita” douradense no Congresso Nacional, levou uma surra de Cacá Guaritá, cujo pai, Waltinho Guaritá, deveria ser motivo de muito mais orgulho para ele do que a condição de genro do tão polêmico deputado Zé Teixeira. Isto, pelos motivos que “seu Zé” tem para bater no peito como “dono” da legislatura recém-empossada no Jaguaribe e com um naco expressivo no secretariado do prefeito Marçal Filho, fazendo questão de acompanhar pessoalmente o trabalho de seus eleitos e indicados, principalmente nas medições de obras ou alguns dos mais rentáveis serviços, como as famigeradas operações tapa-buracos da mesma forma que aparta bois trepado nas cercas das mangueiras em suas invernadas.
A surra ocorreu no banheiro do Sindicato Rural, durante um leilão de gado – um ambiente em que o deputado tem se mostrado mais assíduo do que nas sessões do Congresso Nacional. Embora Nogueira possa tentar minimizar o ocorrido com a justificativa de que “um tapinha não dói”, repetidos chutes no traseiro dificilmente se encaixam nessa categoria. O motivo? Um suposto calote envolvendo recursos enviados pelo PL, mal distribuídos pelo deputado entre os candidatos a prefeito da região.
Muito mais pelo fato de o agressor ser genro do poderoso Zé Teixeira, o “Gordinho do Bolsonaro” não deve ter dado queixa na polícia porque naqueles dias já rodava na rádio-peão a notícia da negociata que ele teria feito, envolvendo a própria mulher, Gianni Nogueira, candidata com potencial para se eleger prefeita, por também ser da cozinha de Jair e Michelle Bolsonaro, mas que, num passe de mágica, virou candidata a vice-prefeita de Marçal Filho. Rodolfo preferiu não ter que explicar os milhões de motivos que teve para fazer a nebulosa negociata.
Mas por que esse assunto agora? Pela insanidade agravada de Rodolfo Nogueira. Só isso para explicar o deboche de ontem nas redes sociais de uma figura reconhecida e respeitada por toda a comunidade internacional, como a ministra Marina Silva, por conta das críticas dela ao discurso de Trump na questão do clima. Provocando gargalhadas do chefe, ele estufou o peito: “Agora sim o Trump está f…”, só não concluindo o palavrão talvez por temer uma punição por falta de decoro – embora não estivesse na tribuna do Congresso – coisa que provavelmente desconheça.
Como lambe-botas mór de quem lá atrás foi expulso do exército por indisciplina e, por isso, não usa mais coturnos, o gordinho, queridinho e fofinho se contenta agora em lamber os pés pelo jeito chulezentos do chefe, pois foi enquanto Bolsonaro esfregava os dedos do pé direito com o dedão do pé esquerdo, sobre a mesma mesa em que provavelmente foi esquadrinhado o roteiro do golpe, que Rodolfo teve esse lampejo de criatividade, num esforço hercúleo para não perder a condição de número um como puxa-saco do inelegível.