A pouco menos de dez meses das eleições presidenciais, aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do presidente Jair Bolsonaro (PL) elegeram os evangélicos como um dos principais focos de disputa. Cada lado, porém, usará métodos diferentes para tentar ampliar a vantagem nesse eleitorado. Segundo petistas, o partido quer atrair esse segmento pela base, por meio do discurso voltado para a economia. Já Bolsonaro, de acordo com aliados, mira a cúpula das igrejas em busca de fidelizá-las com o apelo da pauta de costumes.
Segundo dados da pesquisa Datafolha divulgada em 16 de dezembro, 39% dos evangélicos votariam em Lula contra 33% de Bolsonaro no primeiro turno. No segundo turno, há empate técnico: 46% dos religiosos declaram intenção de eleger o petista, enquanto 44% escolheriam Bolsonaro. Para ele, esse eleitorado garante parte da marca conservadora que ele embute em seu governo, como a defesa da família e costumes.
Ainda que seja católico, Bolsonaro conta com a simpatia da cúpula das principais denominações do segmento. A indicação recente do ex-AGU André Mendonça para o STF (Supremo Tribunal Federal) foi uma promessa aos evangélicos.
Bolsonaro não retirou o nome do pastor apesar da resistência no Senado e até dentro do governo. Diante da pressão dos evangélicos, foi alertado do estrago que isso poderia causar com eles. Para o presidente, é importante fidelizar essa parcela do eleitorado, uma vez que representa aproximadamente um terço da população.
Em outra frente, dirigentes petistas avaliam que o grupo é relevante por representar segmentos que o partido visa atingir. Os evangélicos, segundo pesquisas analisadas pelo PT, são predominantemente pobres, negros e mulheres, em tese, o “público-alvo” do PT, em quem Lula mirou e teria de novo a intenção de beneficiar em programas sociais. Daí a relevância dessa faixa da população para os petistas.
Segundo aliados do ex-presidente, a ideia do PT é focar a base e chegar aos evangélicos na ponta, sem passar por pastores de grandes congregações que os lideram. Os petistas têm um grupo setorial coordenado pela deputada Benedita da Silva (PT-RJ), que passará a ter espaço na programação da TV PT em 2022.
O objetivo é atingir essa população por meio das redes sociais e o trabalho corpo a corpo nas periferias. Para isso, o PT planeja criar centenas de comitês populares para fazer brigadas digitais e pequenos comícios.
O discurso também será diferente daquele do atual mandatário. No lugar de focar na pauta de costumes, o PT quer convencer o evangélico a votar em Lula por meio do discurso da economia e da esperança. A ideia é pedir para que as pessoas relembrem da vida no governo do PT. A briga, dizem dirigentes do partido, é política, não religiosa.
Bolsonaro, por sua vez, tem a estratégia de atingir os evangélicos pelos seus líderes, algo que ele já faz atualmente. Além disso, intensificou a participação em eventos de grandes denominações com plateia de pastores e fiéis.
No caso do PT, a ideia de avançar sobre evangélicos se mistura com a estratégia de angariar votos nas regiões. Eles dizem que pesquisas mostram que há grande predominância dos religiosos nas periferias de grandes cidades, sobretudo no Centro-Oeste.A região é, segundo o Datafolha, onde Lula e Bolsonaro têm a menor diferença de intenção de votos.
Lula tem 41% das intenções no Centro-Oeste e o atual presidente, 32%. A briga promete ser forte no local. Além disso, as regiões Sul-Sudeste também são palco de disputa acirrada entre ambos os presidenciáveis por concentrarem o maior eleitorado do país. No caso de Lula, são áreas onde ele registra os piores índices eleitorais e poderia avançar.
O petista já começou a concentrar esforços em uma das localidades em que registra o pior desempenho ao lado do Centro-Oeste, segundo pesquisas de opinião: o Sul. De acordo com o Datafolha, Lula tem 41% de intenções de voto por lá contra 26% de Bolsonaro.
Nos últimos meses, ele deu uma série de entrevistas a rádios e veículos da região. O desempenho piora em Santa Catarina, afirmam dirigentes petistas, que analisaram pesquisas internas.
No dia 15 de dezembro, Lula deu entrevista à Rádio Blumenau, especificamente no estado onde trava forte batalha com o presidente do turno. Antes, no final de novembro, o ex-presidente falou com a Rádio Gaúcha.
Por outro lado, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, garante que o PT está mais focado no discurso nacional do que em priorizar uma região ou outra. “Não estamos trabalhando com lógica de priorização de regiões, mas com o que vamos defender, que tem a centralidade na economia popular. Temos que gerar emprego, ter renda para o povo ter um estado indutor do desenvolvimento. E isso serve para todas as regiões, a centralidade e a prioridade é essa”, afirmou Gleisi.
Aliados do presidente se mostram confiantes com o voto no Centro-Oeste, no Sul e no Sudeste. A expectativa de interlocutores de Bolsonaro é que ele reedite, de certa forma, o que fez em 2018, ganhando nessas regiões para compensar o Nordeste.
Ainda que o governo tenha apresentado Bolsa Família reformulado com valor do tíquete mais alto (R$ 400), sob a alcunha de Auxílio Brasil, a expectativa é de que o programa apenas reduza a vantagem de Lula na região.
Nem auxiliares palacianos nem dirigentes partidários do centrão dizem acreditar que o presidente conseguirá votos no Nordeste com a medida, ainda que seja uma das principais bandeiras de campanha de Bolsonaro.
A estratégia desenhada até o momento tem sido focar esforços especialmente nos maiores colégios eleitorais, Minas Gerais e São Paulo. A leitura é de que é possível se reeleger se ele conseguir empatar nestes dois estados e diminuir a margem no Nordeste.
Bolsonaro quer lançar Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) em São Paulo. Ainda que ele nunca tenha concorrido a um cargo, tem se mostrado competitivo em pesquisas de intenção de voto e aliados acreditam que há potencial para crescer.
No último Datafolha, Lula aparece liderando nas intenções de voto. Em uma simulação de segundo turno entre os dois, o petista pontua 59% contra 30% de Bolsonaro. O presidente ironizou o resultado da pesquisa em 17 de dezembro, no cercadinho do Palácio da Alvorada, a apoiadores. “Tem que ter Datapovo aí”, afirmou. (Julia Chaib e Marianna Holanda/Folha de S. Paulo).