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sexta-feira, novembro 22, 2024

O mistério das palavras

O lado lírico nada oculto de um ex-presidente do STJ

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O ministro aposentado do Superior Tribunal de Justiça Cesar Asfor Rocha costuma dizer que escrever a letra de uma música é um negócio muito difícil. O ideal, segundo ele, é não ser muito claro ou literal. O espaço para o texto costuma ser curto e, dessa maneira, o segredo é insinuar uma ideia e dar espaço para a interpretação do ouvinte. A poesia nas entrelinhas é que deve ser potente.

Atuando atualmente como advogado, Asfor Rocha fala com absoluta propriedade sobre os mistérios das palavras, já que tem uma trajetória sólida como compositor. O ex-presidente do STJ já teve canções gravadas por grandes nomes da música popular brasileira como Fagner, Geraldo Azevedo e Elba Ramalho.

O trabalho do magistrado está reunido nos discos Parceiros Parceiros 2, ambos feitos em dobradinha com o cantor e compositor Amaro Penna.

Asfor Rocha diz que a composição de uma música é sempre um processo coletivo, em que os autores são responsáveis por metade do trabalho e o ouvinte fica a cargo do resto ao interpretar e, muitas vezes, transformar o que está escutando.

“Eu sempre gostei muito de música. Sempre confraternizei com músicos, mas nunca toquei nenhum instrumento. Por isso, sempre componho letras. Como sempre escrevi muito por conta da minha profissão, em dado momento me interessei pela ideia de escrever músicas.”

O tempo de composição de uma canção varia muito, segundo ele. “Tem música que eu fiz em dez minutos e outras demorei muito mais. Eu escrevia, aí não gostava e ficava burilando a letra até ficar satisfeito.”

A primeira pessoa para quem ele mostrou uma letra foi justamente o futuro parceiro Amaro Penna. “É um amigo que costuma criar arranjos para muitos artistas. Eu mostrei a letra e ele fez uma melodia. A partir daí firmamos uma parceria.”

As composições que mais dão orgulho a Asfor Rocha são O Tempo e o Vento e Identidade, esta última escrita em parceria com Fagner. “As minhas músicas costumam ser muito reflexivas. Acho que só ouvindo essa duas é possível me fazer entender melhor.”

As duas composições evocam uma verve existencialista. Identidade, como o nome sugere, trata das mil e uma facetas que todos nós temos, as idiossincrasias despertadas pela dor e a delícia de habitar uma carcaça humana.

Já o Tempo e o Vento discorre sobre os efeitos que o passar dos dias, meses e anos costuma provocar nas pessoas. Sempre uma medida inexata em que tempos de paz, amor e alegria são fugazes e a sua contrapartida dolorosa anda em marcha lenta. “Quem vive o tempo matando é quem primeiro ele mata”, escreve Asfor Rocha. Difícil discordar.

Rafa Santos/Revista Consultor Jurídico.

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