Estava apenas aguardando Marçal Filho dar a primeira pista sobre o que pretende fazer para resolver um dos maiores problemas da “Golden City” – o trânsito – para começar a martelar nessa dura realidade. Isso porque, além do perigo cotidiano enfrentado por quem precisa exercer seu elementar direito de ir e vir pela cidade, especialmente a pé, trata-se de um desafio que talvez nem seja da Agetran, em parceria com a Secretaria de Serviços Urbanos, mas da agora ociosa Secretaria da Cultura. Afinal, mais do que um problema de gestão e infraestrutura, trata-se de uma questão cultural: a irresponsabilidade e a soberba dos proprietários e condutores de veículos – especialmente os das caminhonetes, SUVs e similares – revelam uma falta de educação que vem de berço, e não apenas o desconhecimento das regras de trânsito que o prefeito começou a combater em sua blitz de ‘fazeção’ sábado passado.
A foto que ilustra este post é um retrato irrefutável da situação. Ora, se o cidadão comete uma infração na frente do gabinete do prefeito, sob os olhos da Guarda Municipal, imaginem o que ocorre longe do alcance do poder público. Mais grave ainda seria se o carro da Guarda tivesse estacionado depois da infração, o que daria uma dimensão ainda maior à permissividade. Diante de uma afronta desse calibre, uma multa seria pouco. O veículo deveria ser guinchado e o condutor merecendo uma boa carraspana na hora em que fosse recuperar o veículo no pátio da corporação – isso, claro, se a Guarda e os agentes de trânsito fossem tão céleres para coibir abusos quanto são para aplicar multas.
Curiosamente, esse tipo de abuso ocorre principalmente na chamada “área nobre” da cidade, na parte alta, onde a ostentação parece crescer proporcionalmente ao saldo bancário. Tudo bem, talvez Freud explicasse o complexo de inferioridade de alguns, especialmente os autodenominados “agroboys”, mas que pelo menos não tirem o direito dos pedestres de utilizarem as calçadas, já que muitos não têm sequer condição de pagar uma passagem de ônibus, quanto mais um Uber.
Na periferia, o cenário muda um pouco. Por lá, como um “Uninho” ou um “Celtinha” cabem em qualquer buraco, o problema mais comum é o estacionamento irregular de caminhões e carretas, o que talvez explique a vista grossa da Guarda Municipal e dos agentes de trânsito. Mas, ainda assim, é um abuso, até porque compromete uma das mais tradicionais práticas do douradense-raiz: o ócio contemplativo na calçada, confortavelmente instalado em sua indefectível cadeira de fios, celular, tereré ou chimarrão à mão.
Seria interessante o prefeito Marçal Filho aproveitar esse ímpeto de “fazeção”, juntamente com seu séquito, para uma varredura pela cidade. Inicialmente, com panfletos educativos, de advertência, batendo palmas de porta em porta e dando um “alô você” de advertência aos infratores, avisando que é só o começo, que da próxima vez manda os amarelinhos, multando. Aos recalcitrantes guincho!

E o que dizer dos pisos táteis? Esses “elefantes brancos”, concebidos para cidades evoluídas, foram instalados em Dourados com pompa e circunstância, mas ninguém os respeita. Pobres deficientes visuais! Se fossem tantos quanto os cálculos das planilhas que embasaram a sugestão de investimento, já teríamos visto uma avalanche de acidentes causados pela afronta dos mal-educados.
Fica, pois, a sugestão às suas excelências que ocupam o Jaguaribe, especialmente aos recém-chegados, que, no afã de acompanharem a ‘fazeção’ do executivo, parecem ainda meio desnorteados com o ritmo imposto pelo prefeito Marçal Filho. Antes que se ocupem da atividade até aqui preferida na Casa, de dar ou trocar nomes de ruas ou conceder títulos e condecorações questionáveis, que sigam, moderadamente, o exemplo da fenomenal Isa Cavala Marcondes, não à toa a mais votada.