Que o baixinho é atrevido e pensa grande, ninguém mais duvida. Afinal, em menos de quinze anos, ele deixou para trás a vida de “pastinha” (vendedor ambulante de propaganda em Dourados) para se consolidar como um empresário de sucesso na região da fronteira Brasil-Paraguai. Hoje, é CEO da UCP (Universidade Central do Paraguai), cuja faculdade de medicina soma cerca de doze mil alunos (99,9 % de brasileiros) entre as unidades de Pedro Juan Caballero e Ciudad del Este.
Agora, sua nova grande tacada é na política, campo no qual ainda tateia, mas já incomoda veteranos: ele quer levar para o PT, partido ao qual se filiou há apenas quinze dias, ninguém menos que a ministra do Planejamento do governo Lula, Simone Tebet. O objetivo? Mantê-la em stand by para, entre outras possibilidades, disputar a sucessão do próprio Lula – em 2026 ou 2030.
Não, isso não é devaneio de quem queima calorias ao lado do presidente em uma esteira, na “humilde residência” que comprou em Ponta Porã, única e exclusivamente para justificar seu domicílio eleitoral no Brasil e disputar, no ano passado, a prefeitura da cidade onde já é chamado de “Dom Carlito”. Com desenvoltura internacional, chegou a cogitar candidatar-se também à prefeitura de Pedro Juan Caballero ou a de Dourados – ambas cidades onde mantém outras “humildes residências”.
Engana-se quem pensa que Carlos Bernardo é um político provinciano, limitado à fronteira ou, no máximo, à terra de seu Marcelino, de onde saiu com uma mochila nas costas para tentar a vida como acadêmico de medicina no Paraguai. Na eleição de 2022, quando disputou uma vaga na Câmara Federal, instalou-se em um sobrado em uma das áreas nobres de Campo Grande, onde montou um comitê maior e mais estruturado do que o de qualquer candidato a governador na curta história do Mato Grosso do Sul.
Onipresente, além de duas faculdades, ele administra diversas fazendas em diferentes estados do Brasil, uma rede de postos de gasolina, um time de futebol da primeira divisão no Paraguai e agora faz planos para ingressar no setor de comunicações, adquirindo emissoras de rádio em Dourados e Ponta Porã. Quando está “desocupado”, dedica-se à política no eixo Campo Grande-Brasília – sendo um dos poucos brasileiros com trânsito livre no gabinete presidencial. Para otimizar suas frequentes conexões em São Paulo – afinal, tempo é dinheiro! – decidiu montar um banco. E não em qualquer lugar: na Avenida Paulista, onde estão as maiores corporações financeiras do país. Assim nasceu o seu Vanbank.
Mas sua grande credencial como político ainda está em fase embrionária. Com um foco nítido, é quase certo que, quando for candidato a qualquer cargo, seus palanques estarão posicionados na linha internacional que divide Brasil e Paraguai, onde, provavelmente, já estará em construção – ou até mesmo funcionando, dado seu dinamismo – o hospital binacional que idealizou para atender a população carente dos dois países. Um hospital-escola, claro, projetado para abrigar médicos residentes e acadêmicos de sua universidade.
Aos incrédulos, que possam ver nisso apenas mais um balão de ensaio, a ideia de trazer Simone Tebet para o PT não é tão absurda quanto parece. Na última sexta-feira, após um lauto almoço em sua área gourmet, na residência de Ponta Porã, Carlos Bernardo detalhou seu plano ao ContrapontoMS.
Primeiro, confirmou – com exclusividade – sua intenção de disputar o governo do Estado pelo PT. Depois, sem tempo para a sesta, trocou de roupa, calçou um tênis e seguiu para a esteira, “ao lado de Lula”. Para reforçar sua identidade partidária, relembrou suas origens “esquerdistas” desde os tempos em que morava em Nova Andradina, onde se envolveu com movimentos sociais – como integrante dos sem-teto.
O convite a Simone Tebet foi feito poucos dias antes de sua filiação oficial ao PT, por meio de um emissário de confiança. Para fundamentar seus argumentos, Carlos Bernardo procurou Eduardo Rocha, marido da ministra. E não foi uma conversa de boteco ou um encontro casual em eventos governamentais, como aquele em que esteve com Lula em Corumbá no ano passado. O tête-à-tête aconteceu no gabinete da Casa Civil do governo Riedel, comandada por Rocha.
Quando questionado se havia algum ponto solto nesse bastidor, Bernardo – sempre com os olhos voltados para Lula – recorreu a um argumento que acabara de ser delineado pelo vereador Aguinaldo Miudinho, partidário de Trad. Isto, num café no gabinete da presidência da Câmara Municipal de Ponta Porã. Miudinho rabiscara em um pedaço de agenda um cenário político para os próximos anos: Pula esse negócio de candidaturas. Lula quer Reinaldo Azambuja e Nelsinho Trad como seus senadores, para ajudar na governabilidade do próximo mandato
“Como assim?”, insistimos.
Já aderindo à ideia, Bernardo começou a trabalhar com o novo cenário, certo de que, pelo pragmatismo do ex-governador, ele não teria dificuldades em reforçar a bancada lulista no Senado. O mesmo valeria para Nelsinho, caso ele consiga a reeleição.
Antes que a conversa interrompesse seu treino ao lado de Lula, Carlos Bernardo provocou:
– Assim como você escreveu que sou pré-candidato a governador, posso também ser candidato a senador. Mas isso, só se o companheiro Vander (Loubet) desistir do projeto dele.
E, como todo recém-chegado a uma legenda, lançou mão do bordão mais clichê dos neófitos partidários:
– Vim para somar, sou um soldado do partido.
Me engana que eu gosto.