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A crônica das prisões anunciadas

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18/12/2018 – 09h13

Délia Razuk começa reforma administrativa pelos secretários mais chegados e causa tensão entre aliados

Além de político matreiro o ex-prefeito Totó Câmara era também um mestre na arte do anedotário. Uma de suas piadas preferidas era aquela das duas freiras chegando esbaforidas pedindo carona ao piloto de um teco-teco que se preparava para decolar de uma cidadezinha, ouvindo que isto seria impossível dadas as péssimas condições meteorológicas. Mas, diante da emergência por elas alegadas e da ‘garantia’ de que Deus estaria no comando, lá se foram. Foi ganhar altura e o pequeno avião entrou numa tempestade. A queda parecia iminente. Só dois paraquedas! As freiras rezam fervorosamente. O piloto pergunta ao patrão, um fazendeiro da região: e as freiras? E ele: foda-se! ao que o piloto perguntou, será que dá tempo?

O retorno, ops!, desta historinha, vem a propósito da mexida que, abruptamente, a prefeita Délia Razuk resolveu fazer em sua equipe de trabalho, por uma dessas coincidências da vida, só após a prisão de seu secretário do Tesouro e consogro, João Fava, do presidente da Comissão de Licitação, Anilton Garcia, e de sua ex-secretária de Educação e vereadora aliada Denise Portolann, isto alguns dias antes da prisão de mais três vereadores de sua base aliada – Idenor Machado, Pedro Pepa e pastor Cirilo Ramão, além do companheiro colega ex-vereador Dirceu Longhi. Todos, por trambicagem com o dinheiro público.

Nenhuma dúvida que uma reforma administrativa era esperada – e inevitável –, pelo grau de vulnerabilidade a que chegou a administração Délia Razuk. Nenhuma dúvida também de que Landmark Rios iria apenas cumprir missão na Assistência Social durante o período eleitoral. Patrícia Bulcão? A Bolsa não vai cair com sua “saída”, já que estava na Secretaria de Governo apenas tampando buraco, pois não é novidade que Délia Razuk não abre mão de acumular esta função, restando saber se o douto juiz aposentado Celso Schuch vai se submeter a isso.

A surpresa veio pela forma e por onde tudo começou – a Secretaria de Saúde. Em que pese o fato de ser a pasta mais sensível e, como tal, maior alvo das denúncias que abarrotam os escaninhos do Ministério Público, o secretário Renato Vidigal era tido como um dos imexíveis. Protegido do poderoso chefão, Roberto Razuk, amigo dos filhos do casal, principalmente do agora deputado Neno Razuk, o jovem médico generalista era do tipo que estava pronto a dar a vida pela causa. Tanto que a ele foi feita uma deferência, a de antes de receber o bilhete vermelho entregar sua carta de demissão. Isto, uma semana depois de aparecer bonito na foto ao lado do presidente Michel Temer, no Planalto, recebendo um prêmio pelos bons serviços prestados no combate à dengue.

Mas a coisa não para por aí. Outros dois dos logo em seguida demitidos sumariamente, Joaquim Soares, dos Serviços Urbanos, e Tahan Sales Mustafá, da poderosa Secretaria de Obras, são mais que imexíveis. São como se da família fossem. Joaquim começou a vida engraxando os sapatos do então deputado Roberto Razuk, depois promovido a supervisor das rentáveis bancas do Galo de Ouro, até se eleger vereador e presidente da Câmara, além de herdar a presidência vitalícia do clube do coração do patrão, o Ubiratan Esporte Clube. O engenheiro Tahan Mustafá é quem tem a confiança e a exclusividade para assinar os projetos e reforçar as estruturas das edificações da família Razuk.

Para tudo isso, pelo que aí está, apenas uma explicação plausível: trata-se de uma desesperada tentativa da sempre generosa, mas também traumatizada, dona Délia, de poupar seus mais chegados do pior. Por estes ela põe a mão no fogo. Ela jura que eles não são dados a coisas como, por exemplo, repassar mensalinho a vereador, muito menos pagar “por fora” contumazes jabazeiros da mídia. Ainda mais, como se isso fosse possível, como escrito hoje na imprensa subordinada, depois do “aceno” ao Judiciário e à Câmara com a entrada do juiz aposentado e seu cabo eleitoral Celso Schuch para “comandar” o governo e com o “fortalecimento” do promotor, também aposentado, Upiran Gonçalves, já que, como secretário de educação vai agora cuidar também do esporte e da cultura, com o fim das sinecuras que “administravam” essas áreas. Seria o caso de se falar numa intervenção branca, mas, aí, só com o juiz Moura e com o promotor Rotuno. Como estes estão na ativa e trabalhando uma barbaridade, pode ser que este ano o Natal não seja tão feliz assim para aqueles que insistem em se locupletar com o dinheiro público.

Renato Vidigal (à direita, com o presidente Temer), do paraíso ao inferno, em menos de uma semana

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