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sábado, outubro 5, 2024

Tarcísio de Freitas, um bolsonarista equilibrista entre radicais e as instituições

O que mobiliza o mais relevante nome da direita brasileira com mandato para voo em 2026

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Faltavam dois dias para a manifestação de 25 de fevereiro convocada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro na Avenida Paulista e o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) tentava disfarçar a apreensão distribuindo sorrisos na posse do novo presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) paulista. No evento, o encontro com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, evidenciou a aproximação realizada no último ano.

— No domingo, vou dar um jeito de colocar umas faixas na Paulista, pedindo “feche o Supremo” e “fora, Xandão” — brincou Moraes, principal alvo do ato que tinha o objetivo de dar um recado ao Judiciário da possibilidade de comoção popular em uma eventual prisão do ex-presidente. — Daí terei que mandar prender o senhor, ministro. Vou estar com vários policiais à paisana, para impedir que isso aconteça — emendou Tarcísio aos risos.

Naquela semana, o governador já vinha atuando como principal ponte entre Bolsonaro e a Corte. Havia sido um mês tenso com a apreensão do passaporte do ex-presidente pela Polícia Federal e uma atípica ida para a Embaixada da Hungria, em Brasília, com um travesseiro em mãos, como se buscasse a fuga de uma detenção — o caso foi arquivado semana passada no Supremo. Tarcísio deu sua palavra a Moraes, ao decano Gilmar Mendes e ao presidente do STF, Luís Roberto Barroso, de que tudo correria “sob controle” na Paulista. Teve que levar o recado para o outro lado de que, se houvesse ataques ao tribunal, os ministros não hesitariam e seriam obrigados a responder.

O governador também se mexeu para baixar a fervura entre os organizadores do evento. Não teve sucesso na tentativa de impedir o pastor Silas Malafaia de falar no microfone, justamente quem teve as palavras mais duras contra o Supremo na Paulista. Mas conseguiu blindar Bolsonaro dos mais radicais na véspera do ato. Dificultou qualquer acesso ao ex-presidente enquanto esteve hospedado no Palácio Bandeirantes no intuito de deixá-lo “sereno” e “controlado”. Passada a manifestação que reuniu mais de 100 mil pessoas em São Paulo, Tarcísio voltou a Moraes para medir a temperatura e pressão sobre a manifestação. Recebeu o retorno de que fora bem sucedido na missão de evitar uma escalada no conflito.

“O MINISTRO É INTELIGENTE, CORAJOSO E OBSTINADO. NÃO SE BRIGA COM MORAES. A GENTE SE UNE A ELE”, repete o governador a aliados ao lembrar a boa relação com o ministro

Aos 48 anos, o engenheiro carioca Tarcísio Gomes de Freitas é hoje o mais relevante nome da direita brasileira com mandato, tendo que se equilibrar dia após dia entre dois papeis: o de maior representante do bolsonarismo fundamentalista, que, com seu principal líder inelegível até 2030, ficou sem ter alguém com a caneta em mãos para atacar vacinas, urnas eletrônicas e o STF; e a institucionalidade do cargo que alcançou em 2022, após conquistar 13,4 milhões de votos e vencer por 55,27% a 44,73% o atual ministro da Fazenda, Fernanda Haddad.

Logo depois de eleito, a formação do secretariado tratou de contemplar nomes afinados com o bolsonarismo. Para a secretaria de Segurança, escolheu um perfil ‘linha-dura’: o capitão da Polícia Militar e deputado federal Guilherme Derrite. Ex-comandante da Rota, atraiu milhões de seguidores nas redes sociais com falas controversas sobre mortes de bandidos nas operações policiais. Em uma delas, defendeu que “é vergonhoso” para um policial não ter ao menos “três ocorrências” por homicídio no currículo. Para a secretaria da Mulher colocou a vereadora Sonaira Fernandes, que já postou na internet mensagens classificando o feminismo como “a sucursal do inferno” ou “ideologia imunda que mata mais que guerras e doenças”.

Ao mesmo tempo, Tarcísio foi se ocupando ao longo de quase um ano e meio de mandato de atenuar os embates de bolsonaristas com o STF. Ajuda o fato de já ter relações com outros ministros além de Moraes. No ano passado, chegou a oferecer um jantar no Palácio dos Bandeirantes para Luís Roberto Barroso e defendeu nos bastidores a indicação ao Supremo do ex-advogado de Lula, Cristiano Zanin, que o procurou para arrefecer a resistência de senadores de direita à aprovação do seu nome.

Recentemente, o governador entrou em campo para tentar evitar a cassação do mandato do senador Jorge Seif (PL-SC), ex-secretário da Agricultura e da Pesca de Bolsonaro. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) vai julgar na terça-feira um recurso contra decisão do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) catarinense que rejeitou denúncia de abuso de poder econômico.

Tarcísio promoveu um encontro, a portas fechadas, entre Moraes e o parlamentar bolsonarista, que sempre teve língua afiada contra a Corte. Além de já ter acusado o Supremo de “sequestrar” as atribuições do Congresso, Seif capitaneou um pedido de impeachment de Barroso, após sua fala sobre “derrotar o bolsonarismo” em um Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE). Desde a conversa em que o senador se comprometeu em não confrontar mais o Judiciário, o novo comportamento já foi notado por aliados. O perfil boquirroto tem dado espaço para um parlamentar mais contido e que sequer se manifestou quando o bilionário Elon Musk, dono do X (antigo Twitter), atacou Moraes nas redes.

A saga de baixar a fervura dos bolsonaristas com o Judiciário também incluiu uma chamada no deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) em uma conversa no Palácio dos Bandeirantes. Disse ao deputado de 27 anos que erra no tom de suas críticas e que pode virar uma caricatura, se seguir apostando no radicalismo e no foco em “likes” nas redes. Assim como Tarcísio, Nikolas é preparado para um dia ser o nome da direita para o governo de Minas Gerais, reduto onde Lula venceu Bolsonaro por pouco em 2022.

Quando Bolsonaro surgiu com a ideia de lançar Tarcísio para o governo de São Paulo, em 2021, o então ministro da Infraestrutura foi o primeiro a se opor à ideia. Tarcísio já tinha conversado com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), e estava decidido a concorrer a uma vaga no Senado pelo estado. Queria permanecer em Brasília onde vive sua mãe e onde estudavam seus filhos.

Foi o desempenho do ministro no evento batizado de “Infra Week”, em abril de 2021, onde foram realizados vários leilões no setor de transportes, e os elogios angariados do empresariado que convenceram Bolsonaro de que Tarcísio era o nome para a eleição paulista.

Na tentativa de demover o chefe daquela ideia, o ministro chegou a defender que Bolsonaro buscasse o ex-governador Geraldo Alckmin para ser seu candidato em São Paulo. Na ocasião, telefonou ao ex-tucano para articular um acerto entre ele e o presidente, mas Bolsonaro foi taxativo ao rejeitar a hipótese.

— Você não entende nada de política, Tarcísio. Ele vai para a esquerda — lembra o governador, que, oito meses depois, viu Alckmin se filiar ao PSB e ser apontado como o vice de Lula para a corrida ao Planalto.

Tarcísio decidiu fazer uma série de conversas para sondar suas chances antes de aceitar a missão. Procurou o ex-presidente Michel Temer (PMDB), o economista e presidente do Insper, Marcos Lisboa, o banqueiro José Olympio Pereira, entre outros. O encontro decisivo, no entanto, foi com o ex-ministro da Fazenda e economista Delfim Netto. É mais um diálogo que gosta de reproduzir como etapa decisiva da construção da sua candidatura ao Bandeirantes.

— O Bolsonaro quer que você concorra ao governo? Está certíssimo, você tem que concorrer — disse Delfim.

Tarcísio de Freitas, um bolsonarista equilibrista entre radicais e as instituições

“O SENHOR ESTÁ DOIDO?” Tarcísio a Delfim Netto, após ex-ministro afirmar que Bolsonaro estava certo de indicar seu nome ao governo de SP

— Digo mais, você vai ganhar. Você tem o que o paulista gosta: entrega. Conheço seus adversários, eles não vão ter o que mostrar. Rapidamente você agregará muitos apoios aqui. Agora, deixa eu te perguntar. Você se dá bem com o Kassab?

— Me dou — disse Tarcísio, acenando com a cabeça.

— Procura ele — aconselhou Delfim.

Autor da célebre frase em 2011, durante o nascimento do PSD, de que o partido não seria “nem de esquerda, nem de centro e nem de direita”, o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab virou coordenador da campanha de Tarcísio e, após a vitória, foi nomeado secretário estadual de Governo.

Enquanto manobrava para o seu partido abocanhar três ministérios no governo Lula, Kassab tornou-se o estrategista central da engenharia de Tarcísio para ser um bolsonarista que nem sempre faz o que o bolsonarismo deseja.

Nem sempre é possível executar o malabarismo político sem atritos. Há dois anos, Tarcísio teve que enfrentar Bolsonaro ao decidir em que partido se filiaria. O então presidente insistia que o ministro fosse para o PL, sua legenda, especialmente para carregar o número 22 na urna. Tarcísio, porém, não cogitava a possibilidade de fazer parte da sigla de Valdemar Costa Neto, cacique-mor do PL que, no passado, ele próprio apelidou de “Valdemort”, em referência ao vilão dos livros de Harry Potter.

Tarcísio de Freitas tem rusgas frequentes com a base bolsonarista. Desde a passagem pela direção do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) no governo Dilma, entre 2011 e 2015, Tarcísio trabalhou contra a interferência política que Valdemar exercia nas principais áreas de logística do país. A pasta dos Transportes foi um feudo do PL durante as administrações anteriores do PT. Quando assumiu o cargo de ministro da Infraestrutura, a disputa se acirrou. O ponto principal de discórdia foi o processo de privatização da Companhia Docas de São Paulo (Codesp), gestora do porto de Santos, por onde passa um quarto das riquezas produzidas no Brasil.

A estatal era considerada um ninho de intervenção política, além de produzir sucessivos prejuízos financeiros. No lugar da Codesp, ele criou a Autoridade Portuária de Santos, que saneou as contas, mas acabava com a influência política na gestão do porto.

Valdemar se rebelou contra a privatização, pois se viu obrigado a desmontar a estrutura que mantinha nos terminais do maior porto da América do Sul. Depois de muito desgaste, discussões internas e rompimento com o mandachuva do PL,Tarcísio ganhou a briga.

Pressionado por Bolsonaro, o então ministro ameaçou desistir de concorrer ao governo paulista se fosse obrigado a se filiar ao PL. Contrariado, o então presidente decidiu liberar o pupilo para ingressar no Republicanos. Atualmente, Tarcísio reavalia a chance de migrar para o PL. Um aperto de mãos com Valdemar vem sendo ensaiado, embora conselheiros como Kassab sejam contrários ao movimento.

MCDONALD´S, COCA-COLA E CONVESCOTES

A rotina de Tarcísio no Palácio dos Bandeirantes começa às 8h e vai até 23h. Adorador da combinação McDonald’s e Coca-Cola, o governador muitas vezes abre mão do almoço e sacia a fome com sanduíches e refrigerante. Na quaresma, perdeu nove quilos ao cumprir a promessa de cortar hambúrguer, pizza e doce da alimentação diária. Nos fins de semana, Tarcísio raramente sai. É comum, porém, fazer convescotes com a família e amigos, dividindo o microfone com famosas duplas sertanejas.

Os momentos mais leves na intimidade contrastam com as frequentes rusgas com a base bolsonarista e o próprio ex-presidente. Na lista de reclamações estão a permissão para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra de retomar a Feira da Reforma Agrária no Parque da Água Branca, vetada na gestão João Doria (PSDB); a recepção com pompa para a viúva de Nelson Mandela, Graça Machel, no Palácio dos Bandeirantes; e a sanção do projeto que instituiu o Dia da Consciência Negra, em São Paulo. No fim de 2023, numa reunião acalorada com deputados aliados na Assembleia Legislativa de São Paulo sobre o aumento do ICMS, o governador desabafou e disse:

“SE QUERIAM UM BOLSONARISTA RAIZ, ELEGERAM O CARA ERRADO”, Tarcísio de Freitas, a deputados aliados na Alesp

O ápice da crise ocorreu após gestos do governador em apoio à Reforma Tributária encaminhada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT). Bolsonaro ficou transtornado ao ver, pela televisão, o afilhado político dizer que “concordava com 95%” da proposta. Após a cena, o ex-presidente chamou Tarcísio para uma conversa em tom de lavagem de roupa suja. A primeira reunião foi a portas fechadas.

Com a crise deflagrada, bombeiros entraram em cena para pôr panos quentes. O principal deles foi o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Jorge Oliveira. Ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência no governo passado e amigo da família Bolsonaro, Oliveira foi um dos responsáveis por aproximar Tarcísio e o então presidente eleito na transição, em 2018. O ministro do TCU ligou para o ex-presidente e defendeu a posição do governador, enfatizando o argumento de que a reforma havia sido originada em seu governo. Oliveira também marcou conversas com parlamentares que atacaram Tarcísio e fez duras críticas, apontando o comportamento do grupo como “pior do que aquele adotado pela esquerda na gestão Bolsonaro”. A poeira baixou.

A Operação Verão, na Baixada Santista, que teve início em dezembro do ano passado para combater o PCC na retomada de territórios dominados pelo crime organizado, virou a grande pedra no sapato do governo Tarcísio, instado a dar explicações diárias à imprensa sobre denúncias de abuso policial. A ação é a segunda mais letal da PM paulista desde o massacre do Carandiru, que deixou 111 mortos em 1992. A Secretaria de Segurança Pública do Estado informa que 56 pessoas morreram, mas dados do Ministério Público revelam, porém, que o número é de 77 mortes por policiais em serviço. Há relatos de moradores detalhando tortura, execuções sumárias, violações de direitos humanos e fraudes processuais.

Em março, ONGs levaram uma queixa formal ao Conselho de Direitos Humanos da ONU pelas denúncias, o que provocou uma reação mais agressiva de Tarcísio:

Tarcísio de Freitas, um bolsonarista equilibrista entre radicais e as instituições

“Podem ir na ONU, na Liga da Justiça, no raio que o parta, que eu não tô nem aí”, disse ele, incomodado com o trabalho da imprensa.

O governador avalia que há uma “romantização” por parte da imprensa e da população sobre o enfrentamento ao crime organizado. Chega a dizer que bandidos, muitas vezes, ganham o rótulo de “preto, pobre e trabalhador” apenas depois de serem mortos.

Em conversas reservadas, contudo, Tarcísio faz um mea-culpa. Admite que errou ao afirmar que não estava “nem aí”. Pressionado, também tem tentado mostrar que não é omisso aos abusos cometidos pela polícia, que ele costuma classificar como “erros de procedimento” que tiram a razão da corporação. Neste mês, condenou publicamente a ação do PM que agrediu uma mulher no metrô, em São Paulo, e o afastou. Também determinou o afastamento de policiais que agrediram um cadeirante em uma operação no início de abril, em Piracicaba (SP). O governador não verbalizou em público sua irritação, mas, nos bastidores, descreveu a ação policial como “horrorosa”.

“A GENTE ESCORREGA, EU ESCORREGO. NAQUELA FALA, PERDI A PACIÊNCIA, PERDI A CABEÇA”, Tarcísio de Freitas, para um aliado sobre a resposta ‘tô nem ai’ para denúncia contra PM

Embora a última pesquisa Quaest do início do mês tenha trazido boas notícias para Tarcísio (62% de aprovação contra 29% de desaprovação), os números por área de atuação revelam que não há apenas pontos fortes na sua administração. Entre sete áreas de atuação avaliadas, a segurança pública, tão marcada pela matança na Baixada Santista, fica na penúltima posição com 33% de menções positivas, 36% regulares e 31% negativas. Apenas a saúde, espécie de Geni de qualquer gestão pública no país, foi pior analisada pelos eleitores (32% favoráveis).

Infraestrutura com 49% de avaliação positiva é o destaque da administração Tarcísio apontada pelo levantamento da Quaest. É justamente nesta área que está a cartada do governador para ampliar o investimento em saneamento básico: a privatização da Sabesp, a companhia de água e esgoto do estado. Como qualquer entrada de capital privado em tradicionais estatais brasileiras desde os anos 90, está em curso uma novela de muitos capítulos para que o governo paulista deixe o controle absoluto da concessionária.

Na última quarta-feira, a 4ª Vara de Fazenda Pública determinou a suspensão da votação na Câmara Municipal para que a cidade de São Paulo aderisse à privatização enquanto não existisse um laudo de impacto orçamentário da operação. Mesmo com a Alesp já tendo autorizado a venda em dezembro passado, é preciso que os vereadores de cada um dos 375 municípios onde a empresa atua deliberem sobre o tema, o que deve se arrastar por meses.

Tarcísio de Freitas, um bolsonarista equilibrista entre radicais e as instituições

Tarcísio de Freitas, em seu gabinete, no Palácio dos Bandeirantes.

A educação também tem sido bem vista pela população paulista com 42% de avaliação positiva, 34% regular e 23% negativa. Apesar dos índices, o secretário Renato Feder, que comandou a mesma pasta no governo de Ratinho Júnior (PSD) no Paraná, está permanentemente em guerra com o sindicato dos professores de São Paulo, historicamente mais alinhado a partidos de esquerda. Na polêmica de maior repercussão até agora, Feder teve que voltar atrás na proposta de adotar material 100% digital a partir do 6º ano do ensino fundamental. Na ocasião, o governo de São Paulo também decidiu se retirar do Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), o que gerou mais pressão negativa de educadores.

“VI QUE A DECISÃO NÃO ERA CORRETA E RECUEI”, Tarcísio de Freitas sobre adotar material 100% digital na rede pública de ensino

‘Um cavalo selado não passa duas vezes”. O velho ditado tem sido usado por Tarcísio para resumir seu sentimento sobre se candidatar à Presidência em 2026. Esse ano, várias agendas do governador tinham conotação presidenciável, como a viagem a Israel onde se encontrou com o primeiro-ministro Benjamin Natanyahu. Além disso, com Bolsonaro tornado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o seu nome passou a aparecer como o mais lembrado na direita para a próxima corrida ao Planalto. Durante o ato de fevereiro na Paulista, um levantamento feito por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) expôs a preferência de 61% dos manifestantes pela candidatura de Tarcísio daqui a pouco mais de dois anos. Em segundo lugar, figuraram as citações à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, com 19%.

Aliados e integrantes do governo descrevem o “cavalo selado” possível em três cenários: um pedido explícito de Bolsonaro para que o pupilo concorra, Lula fora da disputa ou com grande reprovação nas pesquisas, fruto de uma economia indo de mal a pior e sem perspectiva de melhora. Hoje, Tarcísio avalia que a economia perderá fôlego até 2025, sem chances de recuperação. Considera o Lula 3 mais parecido com a era Dilma do que com os governos anteriores do petista.

No seu entorno, contudo, nem todos concordam com a projeção. Gilberto Kassab, por exemplo, é um dos que considera que Lula estará forte para se reeleger e, portanto, se opõe frontalmente ao projeto Tarcísio presidente em 2026. Há quem diga que o chefão do PSD atua em causa própria. Pelo plano, Kassab seria o vice em um segundo mandato de Tarcísio em São Paulo, viraria governador em abril de 2030 quando, aí sim, Tarcísio buscaria a Presidência, e concorreria ao Bandeirantes sentado na cadeira.

Por ora, Tarcísio deixa correr as especulações, varia o discurso conforme o interlocutor, mas deixa claro uma premissa: não quer trocar o que considera certo (uma reeleição) pelo duvidoso (um voo de qualquer jeito para impedir o quarto mandato de Lula).

BELA MEGALE/O Globo

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