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sábado, outubro 5, 2024

O alto preço pago por Marçal Filho & Cia. pela rasteira que Zé Elias tentou dar em Ueze Zahran

Com sede em Ponta Porã, TV Morena não pode transmitir a propaganda eleitoral dos candidatos de Dourados, onde tem maior audiência

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Os políticos de Dourados, principalmente os que passaram pelo Congresso Nacional nesses últimos trinta anos, deveriam se envergonhar dessa que é uma das situações mais esdrúxulas da legislação eleitoral brasileira, no que tange às comunicações, mas que afeta diretamente a terra de seu Marcelino. Bem provável, até, que seja o único caso no Brasil. Interessante, aliás, já que o título deste post fala em preço a pagar, que a maior vítima desta aberração, neste exato momento, é justamente um dos políticos que mais tempo esteve em Brasília: o candidato tucano a prefeito, radialista Marçal Filho, deputado federal por quatro mandatos nesse período. Assim como Alan Guedes, Bela Barros, Tiago Botelho e Racib Harb – quem são os outros mesmo? – todos censurados pela TV “Morena”, a emissora que tem a maior audiência na região, mas que não se cansa de desdenhar e zombar dos eleitores do município do interior em que mais fatura.

Aos fatos. Deputado federal Constituinte, em 1987, o ex-prefeito José Elias Moreira, que por muito pouco não se elegeu como primeiro governador de Mato Grosso do Sul em 1982, vislumbrando, ainda, transformar em realidade este tão acalentado sonho dos douradenses, tentou uma tacada de mestre: trazer para Dourados uma afiliada da Rede Globo. À época ele já detinha a concessão da TV Bandeirantes, aqui retransmitida por sua TV Caiuás (hoje RIT).

Zé Elias fazia parte do recém-criado Centrão, que passaria a ser a maior máfia do Congresso Nacional em todos tempos, o mesmo Centrão que engessou o governo Bolsonaro e que continua mandando no governo Lula por meio do presidente da Câmara Federal, o sempre chantagista Arthur Lira. Um inspiradores desta facção (nesses tempos de PCC o melhor adjetivo para esse tipo de ajuntamento), o tão temido ACM (senador Antônio Carlos Magalhães), que virou ministro das Comunicações do governo José Sarney, de quem Zé Elias conseguiu se aproximar e se tornar íntimo graças a amizade com Ednaldo Melo Basílio da Silva, o economista do IPEA tido como padrinho de Dourados nos tempos do PRODEGRAN (Programa de Desenvolvimento da Grande Dourados), ainda do governo Geisel.

Nessa condição, com a ajuda de Basílio, aí já seu chefe de gabinete na Câmara, Zé Elias foi ao Ministério das Comunicações com a inusitada proposta de trocar a concessão da TV Bandeirantes pela da poderosa Rede Globo em Dourados. Colocado contra a parede, o ministro cedeu. Afinal, como não atender a um companheiro de Centrão num momento tão decisivo no Congresso Nacional?

Uma equipe técnica da Rede Globo chegou a vir a Dourados para vistoriar as instalações da TV Caiuás. Tudo nos conformes. Zé Elias, que era chegado numa boa caipirinha, mas que, em Brasília, com o também constituinte senador Wilson Barbosa Martins (seu adversário na eleição para o governo do estado em 82), aprendera a degustar um também muito bom Oppenheimer (vinho alemão), chegou a abrir uma champanhe Cristal para comemorar o grande feito com o time da Caiuás.

Mas, parafraseando o atrapalhado e desastrado herói Chapollin Colorado, do seriado da TV, o deputado Zé Elias só não contava com a astúcia de Ueze Elias Zahran, o todo-poderoso chefão da rede de afiliadas da Globo nos dois Mato Grossos. Seu Ueze, cujo genro, Gandi Jamil, também era deputado federal Constituinte. Colega e amigo de Zé Elias. Do mesmo Centrão. Pequeno detalhe: representante da região de Ponta Porã. Começou a cair a ficha, sobre o desfecho dessa história?

O astucioso ministro ACM quase caiu da cadeira quando, alguns meses depois, o deputado Gandi Jamil chegou a seu gabinete, em companhia do sogro, a quem conhecia tão bem, como concessionário baiano que era, também, da vênus platinada de Roberto Marinho. Gandi e Ueze tinham uma reivindicaçãozinha que achavam das mais justas para a tão esquecida fronteira. Só um canalzinho de TV brasileira para Ponta Porã, sempre sob a tão forte influência da cultura paraguaia. Claro, para retransmitir a mesma Globo. Como dizer não, ainda mais para um deputado do Centrão?

Epílogo: Como seria tecnicamente inviável para a Globo ter duas emissoras, uma a cem quilômetros da outra, Zé Elias dançou a tonga da mironga do kabuletê, o grupo Zahran ganhou um “elefante branco” em Ponta Porã e quem mais perdeu foi Dourados, já que pela legislação eleitoral, no caso de eleição municipal, as emissoras só podem transmitir os programas dos candidatos das cidades onde são geradoras de sinal.

Uma balela, que se diga, desde que deputados e senadores não pensassem “só naquilo”, ou seja, nos retornos de suas emendas parlamentares, já que condições técnicas para isso não faltam para a TV “Morena”, na verdade TV Ponta Porã. Que seja uma exceção, já que a emissora tem sucursal com estúdios em Dourados, de onde transmite sua programação jornalística. Senão em respeito ao eleitorado, a seus anunciantes, o grosso deles, também, eleitores em Dourados e que gostariam de ver seus candidatos na mesma telinha da globo, onde veiculam as propagandas de suas empresas, não escondidos na TV com traço de audiência do canastrão R.R. Soares.

Ps. Nas eleições anteriores a TV “Morena” cortava o sinal na hora em que entrava a propaganda eleitoral de Ponta Porã, para não confundir a cabeça do eleitor de Dourados e de outras cidades. Hoje nem isso faz. É o fim da picada. Outra coisa, e perguntar não ofende: será que a RIT, cuja geradora é de Dourados, corta o sinal para o resto do Brasil ou os candidatos de São Paulo, por exemplo, estão deixando de ver o Marçal de lá para o Marçal daqui?

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