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sexta-feira, abril 19, 2024

Lula no palco, Bolsonaro em fuga

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Em sua viagem pela Europa, Lula parecia preparar sua volta em grande estilo ao cenário internacional. Em sua viagem a Dubai, Bolsonaro parecia preparar sua saída. Ambos pareciam tentar voltar às origens. Em texto da semana passada na Folha de S. Paulo, Mathias Alencastro mostrou o tamanho do triunfo diplomático de Lula na Europa. A imprensa europeia recebeu Lula com uma mistura de simpatia e surpresa pelo Brasil ainda não ter acabado.

Na Europa, Lula reforçou vínculos históricos do PT e da CUT com a esquerda democrática europeia. Segundo a coluna de Alencastro, sua viagem foi paga pela Fundação Friedrich Erbert, ligada ao Partido Social-Democrata alemão. O PT sempre teve dificuldade de se assumir como partido trabalhista ou social-democrata, mas a centro-esquerda do velho mundo reconheceu a semelhança de família já no berço.

Na biografia de Lula recém-lançada, Fernando Morais conta que o banqueiro Herbert Levy, dono do jornal Gazeta Mercantil, acreditava, nos anos 70, que Lula era um “agente do sindicalismo alemão”. Não era, mas o apoio alemão aos grevistas do ABC em 1978-1980 era real: o primeiro-ministro alemão da época, o social-democrata Helmut Schmidt, fez questão de se encontrar com Lula quando veio ao Brasil em 1979.

Morais também conta que o Cenimar, órgão de repressão ligado à Marinha, suspeitava que Lula havia recebido uma quantia milionária do IG Metal, o poderosíssimo sindicato dos metalúrgicos da Alemanha. Não era uma fortuna, mas os alemães, de fato, contribuíram para o fundo de greve do ABC.

O livro também conta que os futuros ministros Gilberto Carvalho e Miguel Rossetto voltaram da Europa, onde estudavam a proposta de implantação de comissões de fábrica, com doações da central sindical francesa CFDT escondidas na roupa para serem entregues ao fundo de greve dos metalúrgicos do ABC. Além dos casos citados por Morais, lembro que os metalúrgicos suecos também mandaram um emissário à Igreja Matriz de São Bernardo para contribuir com o fundo de greve.

Nessa mesma época, militares da linhagem política estavam fazendo atentados terroristas para sabotar a abertura democrática. Por não ter coragem física, Bolsonaro só conseguiu planejar a explosão das privadas do próprio quartel. Parte dos torturadores da ditadura já começava a se deslocar para o mundo do crime: para o jogo do bicho e para os esquadrões da morte, antepassados das milícias cariocas.

Em sua viagem a Dubai, Bolsonaro declarou que, entre os assuntos tratados, estava a “troca de presos políticos”. É difícil encontrar, na história, um ser humano menos preocupado com presos políticos que Jair Bolsonaro. Nem com seus ex-aliados presos Bolsonaro se importa. Permitam-me, portanto, suspeitar que os “presos políticos” cuja sorte foi discutida em Dubai eram os membros da comitiva brasileira, a começar pelo presidente da República. A turma está com medo de ir em cana.

Em Dubai, Bolsonaro foi atrás de uma ditadura obscurantista e corrupta o suficiente para reconhecê-lo como um igual, como os líderes democráticos europeus reconheceram Lula. Sem as condenações jurídicas, Lula volta ao centro do palco. Com medo de condenações futuras, Bolsonaro foge.

Celso Rocha de Barros

Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra).

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