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sexta-feira, dezembro 5, 2025

Lula distribui cargos para ‘dividir’ o Centrão

Distribuição de cargos também tem sido usada para impedir que aliados da esquerda desembarquem do governo

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Mesmo com o discurso dos partidos do Centrão de que não há aliança fechada com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a tentativa de reeleição em 2026, líderes dessas legendas têm conseguido ampliar o espaço em cargos no governo federal. A cessão de vagas faz parte da estratégia do Planalto, que atua para conseguir apoios de grupos dentro dessas siglas.

Há duas semanas, a Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional (ENBPar), estatal que gerencia a Itaipu e a Eletronuclear, saiu do comando de Silas Rondeau, ex-ministro de Minas e Energia do primeiro mandato de Lula e ligado ao MDB, e agora é presidida por Marlos Costa, que é uma indicação do PSD, de Gilberto Kassab.

Costa já trabalhou no gabinete do deputado Domingos Neto (PSD-CE) e antes era superintendente da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) no Ceará.

Outro exemplo é a ampliação do espaço do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). Ele conseguiu em março emplacar o aliado Hildon Maia Cardoso na Diretoria de Negócio dos Correios. Assim como no caso do PSD, Hildon era da Codevasf do Amapá e ascendeu dentro da máquina pública do governo Lula.

O presidente do Senado tenta ainda influenciar na escolha da presidência dos Correios, posto ainda indefinido após o advogado Fabiano Silva anunciar que vai sair do cargo.

Procurados, os parlamentares e presidentes dos partidos mencionados não comentaram sobre as indicações citadas pela reportagem.

Outros exemplos de cargos estão nas agências reguladoras. O líder do MDB no Senado, Eduardo Braga (AM), emplacou Willamy Frota em uma diretoria da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O senador Otto Alencar (PSD-BA), presidente da Comissão de Constituição e Justiça, indicou Arthur Watt para a diretoria-geral da Agência Nacional de Petróleo (ANP), e o ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG), também da ala do PSD que apoia Lula, conseguiu a escolha de Guilherme Sampaio para ser o diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

A distribuição de cargos também tem sido usada para impedir que aliados da esquerda desembarquem do governo. O PDT da Câmara anunciou que saiu da base e adotou a independência. A decisão aconteceu após a saída de Carlos Lupi do Ministério da Previdência em meio ao escândalo de fraudes no INSS.

Dissidências

Apesar disso, a sigla mantém indicações no governo, como a vice-presidência de Pessoas da Caixa, e até conseguiu cargos novos, como a chefia de um departamento no Ministério do Desenvolvimento Regional e Integração Nacional.

Na mesma direção, as críticas feitas pelo PP, que anunciou uma federação com o União Brasil e tem adotado um viés mais oposicionista, não mudaram as indicações partidárias construídas pelo ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) na Caixa.

Há hoje três vice-presidências da Caixa (Governo, Agente do Operador e Tecnologia) sob comando interino e a tendência é que as bancadas dos partidos do Centrão, agora coordenadas pelo atual presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), indiquem os substitutos.

Integrantes desses partidos reconhecem que há hoje um cenário de divisão e que, mesmo na possibilidade de a legenda embarcar formalmente na candidatura presidencial de alguém de oposição, graças a essas amarrações haverá dissidências pró-governo em alguns estados.

O PSD, por exemplo, tem alas governistas fortes no Rio e na Bahia e está dividido entre lulistas e oposição em Minas. Situação parecida com a do União Brasil, que deverá dar palanque para Lula no Pará e no Amapá, estados do Norte, região com forte presença do bolsonarismo.

— Atenderam mais os deputados que são da base, mas, majoritariamente, o PSD não tem como estar com o PT na próxima eleição. Ou vamos estar com (o governador) Ratinho Jr. candidato, que é o mais provável, ou vamos apoiar Tarcísio (de Freitas, governador de São Paulo) — disse o deputado Reinhold Stephanes Júnior (PR), da ala oposicionista do PSD.

No final do ano passado houve outro movimento de manutenção de aliança com setores do PP, quando a Caixa aprovou Anderson Possa para a vice-presidência de Operações. Ele já comandou o Banco do Nordeste no governo de Jair Bolsonaro, e na época era indicação do presidente do PP, Ciro Nogueira, que hoje adota um discurso contra o governo Lula.

Em alguns casos, como os do União Brasil e do PSD, as escolhas para os cargos contam com a anuência pública das presidências nacionais dos partidos, ainda que eles demonstrem afastamento do governo.

O União dá aval a Alcolumbre para negociar os cargos e a cúpula do partido, embora esteja na oposição, avalia que o chefe do Senado tem a prerrogativa de negociar com o governo em troca de apoio na Casa Legislativa, mas que isso não envolve a legenda.

Já o PSD reconhece a diversidade de posições dos partidos em cada estado e não impede que lideranças regionais tomem o caminho que preferirem.

Tensão com União e PP

Mesmo com a distribuição de cargos, parte dos aliados do governo no Congresso reclamam da estratégia. Parlamentares dizem que as indicações atendem a poucos parlamentares de cada partido e que não servem para formar uma base coesa no governo.

— Os partidos não ficam com uma posição fechada em virtude disso, porque alguns são beneficiados e outros não — avalia o senador Angelo Coronel (PSD-BA)

Em outra frente, a articulação política do governo deve começar a destravar as emendas parlamentares, que enfrentam um ritmo lento em sua liberação por conta do atraso da aprovação do Orçamento, que só aconteceu no final de março. A expectativa de deputados e senadores é que com o aumento da arrecadação e o descontingenciamento de R$ 20,7 bilhões do orçamento anunciado pelo governo, os parlamentares passem a ser mais atendidos com as verbas destinadas para suas bases.

Em paralelo, União Brasil e PP marcaram para o dia 19 de agosto um evento público para marcar o lançamento da federação. A ideia é que o novo grupo seja aprovado em reuniões das direções dos dois partidos e o pedido seja enviado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Com a federação formada, os presidentes das legendas querem um desembarque do governo, o que vai provocar reações das alas mais governistas. Há discordâncias ainda sobre qual o melhor momento para as duas legendas firmarem uma posição para 2026.

Lauriberto Pompeu/O Globo — Brasília

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