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sexta-feira, abril 19, 2024

“Sou velha e feliz, apesar do preconceito”, diz antropóloga

Mirian Goldenberg avisa que valorizar a mulher madura no Brasil é uma mudança cultural que vai demorar para acontecer, mas é inevitável

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Aos 65 anos de idade, a antropóloga Mirian Goldenberg afirma que é velha desde os 40 — faixa etária em que, de acordo com seus estudos e pesquisas, a mulher é considerada “fora do mercado” no Brasil. Autora de A invenção de uma bela velhice: projetos de vida e a busca da felicidade (Ed. Record) e Liberdade, felicidade & foda-se: as perguntas e as respostas para viver mais feliz (Ed. Planeta), entre outros, ela destaca, porém, que um movimento de combate aos estereótipos e estigmas que cercam o envelhecimento feminino vem ganhando corpo. Muitas mulheres — a própria Mirian, inclusive — não só estão desafiando o padrão cultural de juventude vigente como assumindo, na prática, uma nova maneira de se posicionarem no mundo a partir da força de suas escolhas.

Professora titular do Departamento de Antropologia Cultural do IFSC-UFRJ (Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro), Mirian Goldenberg descobriu o viés positivo das redes sociais durante a pandemia. “Me rendi a um mundo que não era o meu e descobri muita gente que compartilha coisas bacanas sobre questões femininas, como a menopausa”, diz ela sobre o Instagram, plataforma que passou a adotar para compartilhar artigos e ideias.

Em entrevista ao Portal Terra ela relata suas impressões como mulher e antropóloga sobre a maturidade feminina hoje.

Há dez anos, segundo suas pesquisas, muitas mulheres consideravam ter um marido uma espécie de “bem de capital”, independentemente de o relacionamento ser bom ou não. Hoje você afirma que há um aumento crescente de mulheres que seguem o lema “não tenho marido, mas sou feliz”. O que mudou?

Um dos fatores é que existe uma maior legitimidade de escolhas que já vinham sendo feitas há tempos. Além disso, diversas mulheres que não se casaram, seja por escolha ou por determinadas situações, não se sentem mais fracassadas por isso. Elas entendem que podem se dedicar a outros projetos para serem felizes. O problema é que a cultura ainda aprisiona as mulheres, principalmente as que decidem não ter filhos. Os discursos e os comportamentos mudaram, mas os valores ficam introjetados nas pessoas. Ainda vai levar um tempo para que a escolha “não quer casar e/ou não ter filho” se torne algo tão natural como se transar antes do casamento, divorciar ou exibir o barrigão de grávida na praia como a Leila Diniz.

A moda de deixar os fios grisalhos em prol de uma maturidade mais empoderada se tornou uma espécie de opressão?

Com certeza! É um momento de ambiguidade. Muitas mulheres são aplaudidas por deixarem de pintar o cabelo e, ao mesmo tempo, criticadas por ostentarem as marcas do envelhecimento. É uma patrulha sem fim. Para mim, obrigar as mulheres a considerar decisões libertárias é uma forma de prisão. É preciso ligar o “botão do foda-se” para estigmas e preconceitos sociais e viver da maneira que achar melhor.

Atualmente se discute bastante a jovialidade das mulheres 50+. Você acha que vivemos um momento de ressignificação desta idade?

Não gosto da ideia de falar que as mulheres maduras agora aparentam menos idade do que gerações anteriores. Nós aparentamos a idade que temos no momento histórico que estamos vivendo. A forma de nos colocarmos no mundo é outra, em comparação a décadas atrás, para mulheres de qualquer idade. E não podemos subestimar os fatores culturais. Se eu me comparar com uma mulher alemã da mesma idade, por exemplo, posso parecer mais jovial com o meu cabelo pintado e a minha franja, mas, culturalmente, sou mais velha do que ela. Porque no Brasil ainda existe muito preconceito com a mulher madura, algo que não acontece com as mulheres alemãs, que podem se sentir mais livres com a idade que têm. Sou velha e feliz, mesmo com todo esse preconceito. Atravessamos um período de mudanças culturais, sim, mas elas não se concretizarão tão rapidamente. Isso não significa ficar de braços cruzados esperando, mas assumir um papel nisso e procurar envelhecer bem e conviver com isso sem se importar com a opinião alheia.

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